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Historinhas de Bicho-Papão

sexta-feira, 12 de março de 2010


Não é de hoje que os Estados Unidos, através do seu oráculo duvidoso chamado C.I.A., vem tentando amedrontar a opinião pública internacional com seus infundados receios de levante terrorista em cada canto deste mundo, todos partindo supostamente dos países que integram o Oriente Médio, o covil do famigerado “Bicho-Papão”!

Crescemos ouvindo fábulas repetitivas sobre ameaças tiranas vindas do Iraque, Afeganistão e Irã. Mais recentemente o Bicho-Papão tirou férias na Coréia do Sul, mas sabemos que décadas atrás ele também já residiu na Rússia!

Agora, ao que tudo indica, a nobre morada deste monstro maligno volta a ser o Oriente Médio, mais precisamente no representativo Irã. Assim nos tenta assustar a C.I.A. e todos os demais órgãos do governo americano interessados no ouro-negro.

Os Estados Unidos agem da mesma forma que muitos pais que desejam restringir a hiperatividade dos seus filhos pequenos, promovendo pavor através de apelativas ameaças embasadas em histórias de Bichos-Papões, Homens-do-Saco, Mulas-sem-cabeça e outros entes fantasmagóricos do imaginário infantil. Como esses pais desesperados, os Estados Unidos também possuem outros intentos camuflados por trás da imposição de disciplina que querem instigar em seus filhos, ou seja, esses pais que contam essas histórias macabras querem mais que seus filhinhos corram pra cama e durmam rapidamente, parando assim de encherem os seus sacos, para então poderem se dedicar aos seus prazeres individuais, como um jantarzinho fora, uma balada com os amigos ou simplesmente uma boa noite de sexo!

Com os Estados Unidos as segundas intenções por trás das suas historinhas de terror, (leia-se “supostos atentados terroristas e extermínio da raça humana através do uso de armas nucleares”) são mais simples ainda: eles só querem se divertir com o petróleo dos outros!


Mas a política de hegemonia dos Estados Unidos sobre os demais países não se restringe apenas a conquista comercial do petróleo. Eles querem tudo!

Só que agora eles enfrentam um inevitável problema: os “filhos pequenos” que eles sempre assustaram com suas historinhas, cresceram e hoje são “adolescentes rebeldes”. Exatamente como todos os pais, os Estados Unidos não conseguem enxergar que seus “filhinhos” não vão mais obedecê-los da mesma forma ingênua que antes, quando eram “crianças apavoradas” e, com isso, insistem em continuar contando suas historinhas de assombração!

Exemplo bem recente desta contradição podemos ver na “guerra” comercial que começa a se formar entre os Estados Unidos e Brasil. A coisa toda parece recente, mas começou lá atrás em 2002, quando representantes do agronegócio brasileiro contestaram os subsídios que os Estados Unidos ofereciam aos seus plantadores de algodão, impondo, de forma desleal, uma distorção brutal no preço mundial deste produto, prejudicando assim a exportação em geral. O algodão americano ficou barato porque o governo ajudava excessivamente os produtores, enquanto que no resto do mundo não havia nenhum produtor de algodão que conseguia chegar ao preço americano. 

A coisa ficou feia e o Brasil fez denuncia a O.M.C. (Organização Mundial do Comércio). O Brasil ganhou a causa e a O.M.C. determinou que os Estados Unidos recuassem nas medidas.


Os anos se passaram e nada aconteceu. E agora, que o Brasil já é um “adolescente brigão”, chamou os Estados Unidos pro pau:  a O.M.C. nos autorizou a aplicar sanções comerciais na ordem de 829 milhões de dólares contra os Estados Unidos e, no último dia 8 de Março,
segunda-feira, o governo brasileiro anunciou um pacote com 102 tipos de produtos importados dos Estados Unidos que passarão a ter uma tarifação elevada. Como se isto não bastasse, ainda fomos autorizados pela O.M.C. a estender as sanções às áreas de serviços e propriedade intelectual!

Se as coisas não se acertarem, o Brasil pode quebrar patentes americanas. É um marco em termos de decisões da O.M.C., que automaticamente se transforma em mais uma ferramenta de controle de abusos comerciais futuros, disponível agora a todos os países que resolverem “peitar” o grande Tio Sam!

E como todo americano é costumeiramente paranóico, já se tem notícias na mídia de lá que nosso país “planeja violar direitos de propriedade intelectual de filmes e remédios”, segundo a rede de notícias Bloomberg. Eu sei, acabou de passar pela sua cabeça as letrinhas de Hollywood sendo colocadas no Pão de Açúcar no Rio de Janeiro e todas as nossas farmácias vendendo genéricos do Viagra!

Utopia? Não sei. Só sei que o cerco está apertando cada vez mais. Na última terça-feira, 09 de Março, o Senador americano do partido Republicano, Mike Johanns, ex-Secretário da Agricultura, disse ao Senado e à imprensa americana: “Vocês ficariam chocados com quanto apoio internacional o Brasil tem. Se for nessa direção, o Brasil terá muitos amigos. Não está sozinho! Preparem-se, eles vão pegar os setores mais sensíveis”.

É claro que teremos uma alta nos preços de alguns produtos importados que consumimos costumeiramente, mas o Governo brasileiro deixou claro que estes produtos relacionados na lista de taxação elevada não são tão prioritários na economia nacional, pois temos similares nacionais (sendo que muitos são melhores) e de outros países em nosso mercado.

E como é comum em nosso país, temos entre nós aqueles que proclamam a hegemonia americana a todo custo, na tentativa de minar o patriotismo brasileiro. Dentre essas pessoas (ou instituições) temos a sempre presente emissora de TV Rede Globo, que no decorrer desta semana pontuou diversas reportagens mostrando que a atitude do Brasil em se colocar na mesma posição de “superioridade” estadista do nosso Tio Sam, só trará prejuízos a nossa população. Evidente que o recado não foi assim tão explicito, mas a Rede Globo colocou no ar matérias apelativas em seus telejornais, dizendo que tudo vai ficar mais caro, até o pãozinho que compramos diariamente! Que palhaçada!

Sorte que o Governo observou isto e o nosso Ministro da Agricultura afirmou na mídia através da Agência Brasil que “falar em aumento de pãozinho é terrorismo!”.

E pra terminar, voltemos ao início deste texto, quando falei a respeito da C.I.A. Pois acontece que temos mais uma prova da ingenuidade dos Estados Unidos em pensar que ainda somos aquelas “criancinhas” assustadas com histórias de Bicho-Papão:  o diretor da C.I.A., Leon Panetta, alertou esta semana a Índia e o Brasil de que “os dois países enfrentam ameaças crescentes da Al Qaeda e do Taleban, indicando a necessidade de uma cooperação maior com os Estados Unidos”.

Pra mim parece que os Estados Unidos querem que sejamos um “bom menino” e que paremos de ser “mal-educados” e desapontar tanto o “titio” Sam, senão dois grandes Bichos-Papões vindo lá do Oriente Médio vão nos pegar!

Como diria o Robin ao Batman: “Santa Bobagem!!!”

2 comentários:

Anônimo 12 de março de 2010 às 11:44  

Um texto fantástico, claro e altamente explicativo. Talvez você, por sua maturidade (para não dizer idade), tenha acompanhado as historinhas do nosso ‘tutor internacional’, que sempre quis dar uma de protetor, ‘paizinho’, ‘irmãozinho mais velho e responsável’ ou, sei lá... ‘xerife internacional’. Se acompanhou, e tudo indica que sim, já percebeu as diversas táticas dissimuladas do Tio Sam para se por no controle da política internacional. Tomara que essa visão nítida e clara das coisas, no âmbito das negociações internacionais, estenda-se a todos.
Substrado do Pó do Nada

Deijivan 13 de março de 2010 às 04:37  

Muito obrigado pelo comentário!
Felizmente (ou infelizmente) eu realmente já presenciei, no decorrer da minha parca existência, inumeras tramóias postuladas pelo engenhoso Tio Sam para interferir no destino de muitos paises, principalmente o do nosso!

Mas a coisa toda é mais antiga do que eu! Na década de 40 o presidente americano Franklin Delano Roosevelt teve a ideia de implantar a "Política da Boa Vizinhança", uma estratégia que fazia parte do seu plano "New Deal", que procurava uma suposta integração dos paises da América, em especial o Brasil. Foi quando surgiu filmes como "Você já foi à Bahia?" (The Three Caballeros), usando a personagem Carmem Miranda como garota-propaganda do idealismo americano. Nesta época também, o desenhista e empresário Walt Disney foi contratado pelo governo americano para criar o personagem Zé Carioca, com o intuito de mandar o recado para nós de que eles eram bonzinhos e queriam a nossa amizade! Pra vc ter uma idéia, veja este vídeo no Yotube sobre uma dessas campanhas publicitárias da época: http://www.youtube.com/watch?v=A0EWKJN2g64

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