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O Império continua Contra-Atacando!
quarta-feira, 10 de março de 2010
Hoje não vou escrever e sim re-publicar um artigo que saiu na Folha de São Paulo na última segunda-feira, dia 8 de Março.
Trata-se de um excelente texto escrito pelo Professor emérito da F.G.V. (Fundação Getúlio Vargas) Luiz Carlos Bresser-Pereira, que também é ex-ministro da Fazenda (do Governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro Governo F.H.C.) e da Ciência e Tecnologia (segundo Governo F.H.C.), além de autor da magnífica obra “Globalização e Competição” (publicado pela Campus/Elsevier), com suas versões em inglês e francês publicadas pela Cambridge University Press e pela editora La Découverte, respectivamente.
Trata-se de um excelente texto escrito pelo Professor emérito da F.G.V. (Fundação Getúlio Vargas) Luiz Carlos Bresser-Pereira, que também é ex-ministro da Fazenda (do Governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro Governo F.H.C.) e da Ciência e Tecnologia (segundo Governo F.H.C.), além de autor da magnífica obra “Globalização e Competição” (publicado pela Campus/Elsevier), com suas versões em inglês e francês publicadas pela Cambridge University Press e pela editora La Découverte, respectivamente.
Cabe um breve histórico deste relevante brasileiro: Bresser-Pereira é Professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo desde março de 1959; Professor titular desde 1972; primeiro Professor Emérito da Fundação Getúlio Vargas, desde 2005. Inicialmente foi Professor de Administração e, desde 1967, de Economia. Oferece cursos regulares de Sociologia Política na EAESP/FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas) e de Economia na EESP/FGV (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas).
É também Presidente do Centro de Economia Política e editor da Revista de Economia Política / Brazilian Journal of Political Economy, desde 1980, além de Professor associado da EHESS – École d’Hautes Études en Sciences Sociales, e da Maison des Sciences de l’Homme, em Paris, onde oferece um curso anual de quatro seminários desde 2003.
Como se todos estes títulos não bastasse, Bresser ainda é Colunista da Folha de S. Paulo desde 2005, escrevendo regularmente nesse jornal desde 1976, alguns momentos como autor isolado, outras vezes como colunista.
A autorização para publicar este artigo me foi concedida através de um comunicado emitido pela Secretária do senhor Bresser, Cecília Heise.
Transcrevo na integra o artigo intitulado “Irã e a Proliferação nuclear”:
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Folha de S.Paulo, 08.03.2010
“O mundo tem problemas muito mais graves do que a eventual entrada do Irã no clube das potências nucleares”
“A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, esteve no Brasil na semana passada para convencer nosso governo a apoiar novas sanções econômicas contra o Irã, mas não obteve êxito. Talvez porque os interesses do Brasil nesse caso não sejam os mesmos dos EUA, ou porque nossa avaliação do problema da proliferação nuclear seja diferente da americana.
Depois do Iraque e de suas armas de destruição em massa, o Irã se tornou "o grande problema" da política internacional, e os Estados Unidos e a Europa ameaçam esse país com novas sanções, porque estaria construindo capacidade nuclear. Tenho dúvidas de que seja essa a motivação principal contra o Irã, dada a "lógica" da política internacional americana desde o 11 de Setembro, mas não vou me ater a essa questão.
A pergunta mais importante é: será que o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares é tão relevante para a paz mundial? Há um pressuposto tácito entre os bem pensantes de todo o mundo de que o tratado é fundamental para a paz, de forma que ninguém se dispõe a discuti-lo, mas é preciso fazê-lo.
Dois são seus objetivos formais: impedir que novos países se tornem capazes de produzir armas atômicas e promover o desarmamento nuclear dos países potências nucleares. Entretanto, significativamente, nenhum desses dois objetivos definidos em 1970 está sendo cumprido. Depois do tratado, a Índia, o Paquistão, Israel e provavelmente a Coréia do Norte se tornaram potências nucleares. E não houve sanções maiores contra os três primeiros países. Por outro lado, não tenho notícia da redução que o tratado previa dos arsenais atômicos dos grandes países.
Embora isso não esteja escrito, o objetivo maior do tratado é impedir que "países irresponsáveis" se armem nuclearmente. É impossível não estar de acordo com essa idéia. Mas o que é um país responsável? Por que o Paquistão e Israel são responsáveis enquanto o Irã não é? Não tenho dúvida quanto ao perigo de um país como a Coréia do Norte, enquanto é difícil, para mim, ver mais perigo no Irã do que, por exemplo, no Paquistão. O Irã é um grande país, herdeiro de uma civilização milenar. Entre os países do Oriente Médio, só a Turquia se compara a ele em termos de desenvolvimento. E é um país que se sente gravemente ameaçado desde que realizou sua revolução nacionalista e islâmica, em 1979.
Folha de S.Paulo, 08.03.2010
“O mundo tem problemas muito mais graves do que a eventual entrada do Irã no clube das potências nucleares”
“A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, esteve no Brasil na semana passada para convencer nosso governo a apoiar novas sanções econômicas contra o Irã, mas não obteve êxito. Talvez porque os interesses do Brasil nesse caso não sejam os mesmos dos EUA, ou porque nossa avaliação do problema da proliferação nuclear seja diferente da americana.
Depois do Iraque e de suas armas de destruição em massa, o Irã se tornou "o grande problema" da política internacional, e os Estados Unidos e a Europa ameaçam esse país com novas sanções, porque estaria construindo capacidade nuclear. Tenho dúvidas de que seja essa a motivação principal contra o Irã, dada a "lógica" da política internacional americana desde o 11 de Setembro, mas não vou me ater a essa questão.
A pergunta mais importante é: será que o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares é tão relevante para a paz mundial? Há um pressuposto tácito entre os bem pensantes de todo o mundo de que o tratado é fundamental para a paz, de forma que ninguém se dispõe a discuti-lo, mas é preciso fazê-lo.
Dois são seus objetivos formais: impedir que novos países se tornem capazes de produzir armas atômicas e promover o desarmamento nuclear dos países potências nucleares. Entretanto, significativamente, nenhum desses dois objetivos definidos em 1970 está sendo cumprido. Depois do tratado, a Índia, o Paquistão, Israel e provavelmente a Coréia do Norte se tornaram potências nucleares. E não houve sanções maiores contra os três primeiros países. Por outro lado, não tenho notícia da redução que o tratado previa dos arsenais atômicos dos grandes países.
Embora isso não esteja escrito, o objetivo maior do tratado é impedir que "países irresponsáveis" se armem nuclearmente. É impossível não estar de acordo com essa idéia. Mas o que é um país responsável? Por que o Paquistão e Israel são responsáveis enquanto o Irã não é? Não tenho dúvida quanto ao perigo de um país como a Coréia do Norte, enquanto é difícil, para mim, ver mais perigo no Irã do que, por exemplo, no Paquistão. O Irã é um grande país, herdeiro de uma civilização milenar. Entre os países do Oriente Médio, só a Turquia se compara a ele em termos de desenvolvimento. E é um país que se sente gravemente ameaçado desde que realizou sua revolução nacionalista e islâmica, em 1979.
A questão da ameaça é importante. Os grandes países não cumpriram o tratado, não se desarmaram, porque isso não é do seu interesse nem, creio eu, do interesse do resto do mundo. Ainda que haja outras razões para a paz mundial existente entre os grandes países desde 1945, a "détente" nuclear continua a ser uma delas. Nenhum país ousa atacar outro que tenha força nuclear. Ora, se a posse de armas atômicas é uma boa razão para a Rússia ou a para China não atacarem os EUA e vice-versa, por que não seria também uma boa razão para Israel não atacar o Irã e vice-versa? Os israelenses não tiveram dúvida quanto a essa questão. Por que os iranianos teriam menos legitimidade em ter a mesma opinião?
As armas nucleares são um perigo para todo o mundo, mas são também uma razão para que potências nucleares não façam mais guerras entre si. Não vivemos no mundo perfeito dos nossos sonhos, mas isso não se deve à existência de armas nucleares. O mundo tem problemas muito mais graves do que a eventual entrada do Irã no clube das potências nucleares. Vamos tratar desses problemas e deixar o Irã em paz”.
As armas nucleares são um perigo para todo o mundo, mas são também uma razão para que potências nucleares não façam mais guerras entre si. Não vivemos no mundo perfeito dos nossos sonhos, mas isso não se deve à existência de armas nucleares. O mundo tem problemas muito mais graves do que a eventual entrada do Irã no clube das potências nucleares. Vamos tratar desses problemas e deixar o Irã em paz”.
Caro leitores, que fique o recado muito bem passado pelo Professor Bresser. Amanhã vou publicar um texto que estou terminando de redigir, sobre o insistente papel dos Estados Unidos de servir como “pai” do mundo.
2 comentários:
Já pegou o seu selo em meu blog?
Não, eu nem mesmo sabia que havia sido agraciado com um selo! Muito obrigado!
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